quarta-feira, 13 de maio de 2009

Carta Nanda

27/04/2009. 00:41
É mocinha não é fácil ser um garoto sem sombra.
Parece que falta uma parte de mim e infelizmente falta, não sei como cheguei a essa certeza, mas cheguei. Vivo no mundo, meus dias são corridos, pelos meus olhos passam milhares de pessoas, mas quando chego em casa e me deito para descansar, percebo o quão sozinho estou. Na minha cama sobra um espaço, não quero e nem procuro uma pessoa para satisfazer meus desejos sexuais momentâneos. Quero alguém que deite e que converse comigo, que me faça cafuné até que eu pegue no sono, que seja alguém que compreenda e também aceite essa rotina maluca que muda do dia pra noite, que aceite fazer parte dela.
Sempre que penso que é impossível, encontro pessoas que me completam e que me fazem ter sombra por breves instantes. Não tenho vergonha de dizer a estas pessoas que acredito em fadas, que choro, que tomo banho de chuva, que olhos atraem meu olhar e meu interesse, que sou carente, que olho as estrelas, que sou ao menos me acho cult, que sofro por amor, que já amei e que tenho certeza que nunca fui amado, por um amor verdadeiro e essencial.
Já ando tão amortecido para as desilusões, que quando elas chegam até mim, apenas me sinto angustiado e choro. Isso talvez seja pra eu apreender que o sol brilha para todos e não única e exclusivamente para uma pessoa. Ele brilha pra nós Nanda. Mocinha pequena, porém intensa, apaixonante, brilhante;
Poderia ficar horas a escrever sobre você, bem, primeiro me perdoe pelo texto acima, na verdade, me perdoe por esse pedaço de mim em palavras. Segundo, perdoe os erros de português afinal agora são 01:00 da manhã, já não me encontro mais no meu estado normal de consciência e juventude.
É almas inquietas custam a dormir, ainda mais quando sabem que aqui já não é mais o seu lugar.
É mocinha, espero um dia, em algum lugar ter o prazer de sua companhia num café.
Estranho tenho tanto para falar, mas no momento me faltam palavras, nem sempre é fácil traduzir para palavras algo tão intenso e subjetivo. Melhor para por aqui. Como diria uma amiga minha numa carta que recebi um dia, as pessoas caem de para – quedas na minha vida é essa a impressão que eu tenho às vezes. E realmente param a minha queda. Parece besteira, mas gosto de você pequena grande garota. Conte comigo sempre. Já me sinto de certa forma seu amigo, e saiba que os amigos podem se perder de vista ao longo de seus caminhos. Mas nunca perdem a essência do que realmente uma amizade significa.

“Vous vous êtes responsable de tout ce qui captive”

(Exupéry)

D.G.

domingo, 10 de maio de 2009

Uma Passagem


A amizade é uma das coisas mais preciosas

da vida e fica melhor ainda quando vira amor.
(Cazuza e Frejat)





Todo o dia de manhã pegava o ônibus, era janeiro, férias e eu estava livre da faculdade, mas presa o trabalho. O ônibus vinha com poucos passageiros, no primeiro dia útil de janeiro, se não me engano era dia três de janeiro de 1996, fui para o trabalho, embarquei e meus olhos o encontraram, parece clichê, mas foi como amor a primeira vista. Sentei um atrás dele, durante a viajem toda fiquei reparando no seu jeito, a viajem toda fiquei disfarçando, mas era impossível não olhar para ele, ali sentado na janela olhando as paisagens que passavam pela sua janela, por coincidência ele descia um ponto antes do meu.
Fiquei algumas semanas viajando sentada sempre próximo dele. Imaginando a sua voz, seu cheiro, seu jeito; passou janeiro, me lembro até hoje que no primeiro dia de fevereiro acordei decidida, iria me sentar com ele, o ônibus passou no mesmo horário agora já começava a vir com mais passageiros ms para minha sorte naquele dia ninguém havia sentado com ele, respirei fundo e sentei, a partir daquele dia passei a me despedir da minha timidez toda vez que embarcava no ônibus, passei a puxar papo com ele, lembro que nossa primeira conversa relâmpago foi sobre o tempo e o clima de férias, mesmo a gente tendo de trabalhar. Pela primeira vez ouvi seu timbre de voz, era lindo, envolvente suave, mas firme e seu cheiro me trazia uma sensação embriagante, poderia ficar horas viajando ao seu lado, me sentia em outra dimensão.
Nossas conversas nunca foram muito longas e nunca com um sentido. Teve um dia que estava chovendo e ele me falou suas teorias sobre o céu e o mar, o sol e a lua. Quando ele terminou eu estava assumidamente com cara de boba, não pela sua teoria fazer sentido mas sim por ver que ele conseguia ver além das coisas banais, afinal ele admirava a lua, o sol, o céu e o mar. Hoje quando me lembro caio na gargalhada, quando lembro de suas teorias.
Ficamos amigos, confesso que além de amizade tinha algo a mais que sentia por ele, não sei explicar, mas sentia falta quando ele não vinha, ou quando um dos dois perdia o horário, ele passou a se tornar uma droga diária, eu necessitava de suas doses. Fevereiro passou e ele também, não, não esqueci ele, mas no dia 28 de fevereiro de 1996, meu ônibus atrasou, quando embarquei nem me preocupei em perguntar o porque do atraso, procurei por ele e ele não estava, viajei sozinha, quase que em crise de abstinência, passei a viajem inteira agoniada, quando desci perguntei ao motorista o porque do atraso e o motorista me disse com os olhos embargados que o moreno que sentava comigo, todos os dias, havia se atrasado para pegar o ônibus e na pressa de atravessar a rua, foi atropelado por um caminhão. Fiquei sem reação, sem chão; ele se foi e passei a viajar sozinha novamente, sempre sentada no mesmo lugar que sentávamos todos os dias, busca ali naqueles dois bancos, resquícios de uma pessoa que passou a ser necessária pra mim.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ardume.

Acordei péssimo está manhã, feriado, não tenho trabalho nem faculdade. A solidão toma a casa, ela já deixa de ser uma sensação para ser alguém, alguém que me faz falta e nem sei quem é ou talvez saiba, mas tenho medo ou raiva de encarar a verdade. Levantei da cama abri a janela do quarto pra ver se sai esse cheiro típico de casa fechada, sindo um ardor no peito, como se algo estivesse queimando, como se no lugar de coração, ou pulmão, ou até mesmo de garganta eu tivesse um pedaço de brasa, aquela brasa de fogão a lenha que está no auge do seu calor, no seu calor máximo. Arde, queima, no lugar do meu amado café com leite tomei um copo de água gelada pra ver se dava jeito de eliminar esse ardor, esperei, esperei e nada. Porra nenhuma que água gelada ajuda a aliviar ardor.
Essa sensação só tenho quando bebo na noite anterior, mas dessa vez eu não bebi, eu juro. Não tô de ressaca, talvez esteja, de ressaca desse porre que a minha vida neste estado presente. Se minha vida se resumisse a uma garrafa de cachaça garanto que beberia tudo e mais um pouco se houvesse, talvez assim cairia em uma sarjeta qualquer e perderia a memória e poderia começar tudo de novo.
Merda! Esse ardor não passa, já sei. Parei de frente pra geladeira abri a porta puxei uma das cadeiras para frente dela e sentei o mais próximo possível, será que esse frio gélido resolve. Sentei, esperei, esperei e nessa minha saga de apagar essa brasa observei o que minha geladeira guardava, fazia tempo que não abria ele, afinal sou mais turista do que morador da minha própria casa e além disso não ando mais sentindo fome, estranho, adoro comer, mas hoje a fome já me faz falta, alias nem falta meu estômago nem meu corpo pedem por comida. Reparei que minha geladeira é mais saudavél e limpa do que eu. É sinto meu paito arder em brasa e me sinto sujo, tomei banho antes de dormir, mas mesmo assim neste momento me sinto sujo, será que me sujei durante a noite, que vergonha com essa idade ainda fazendo xixi na cama. Não mas não foi isso, estou seco e não sinto cheiro de mijo. Apenas tenho a sensação de estar sujo e queimando. Será que é assim que as mulheres que foram queimadas na fogueira se sentiam enquanto queimavam? Sentiam o calor que lhes tomava o corpo e se sentiam sujas; enfim, melhor pensar em mim no que nas mulheres que morereiram queimadas, afinal, que Deus as tenha.
Meu corpo já reage ao frio, mas meu peito continua ardendo, estou tendo tremores sinto meus dedos do pé e das mãos mais gelados que de costume. E o ardor continua, não estou doente, não estou com gripe, nem com dor de garganta, meu pulmão está perfeito, meu coração é um verdadeiro motor, então dá onde vem esse ardor, coisas que não sabemos explicar apenas sentir. Já que não tenho nada pra fazer, afinal é feriado, ficarei sentado aqui até que esse ardor passe ou então até que meu corpo aguente o frio gélido que vem dá geladeira saudavél. Mas tenho medo do que pode sair aqui de dentro.