sábado, 20 de dezembro de 2008

Cartas...

Realmente quando decidi sair da recepção, fiquei curiosa em saber quem iria ocupar meu lugarzinho ali na frente. Sempre gostei muito do professor. E eu tinha certeza que ele ia chamar alguém bacana.
Mas não esperava que fosse alguém que acabaria por se tornar tão querido e especial.
Alguém que faz tanta falta quando eu chego de manhã e não se abre a porta enquanto ainda to subindo a escada,porque sabe, por mais que tenha aquela porta de vidro que reflete, ás vezes eu desconfio que tu aperta o botão pra mim entrar, mesmo sem tre me avistado ainda. será?
Será que os amigos se conhecem pelo simples ritmo (o meu sempre atrasado) de andar?!
Realmente, a correria que a gente anda, com nossos planos, nossas vidas, tanta coisa acontecendo, faz com que muitas vezes entremos numa bolha. E então a falta de tempo se sobressai a ponto de nos impedir de sentarmos e fofocarms alguns minutinhos.
Mas conheço-te amigo, só por teu olhar.
Meu amigo BIPOLAR! Que já é responsavél por mim, já diria Exupéry.
Meu amigo resmungão, sonhador, pé no chão, um tanto quanto estressadinho. No fundo, se eu já não tivesse um DNA comprovando minha maternidade e paternidade, diria que somos parecidos qual dois irmãos. Nossa vida é muito parecida.
Essa coisa, de ter que trabalhar/estudar, ser rodeado de gente e se sentir um tanto pouco quanto só. De querer se jogar pra esse abismo que é a vida. De esperar dela mais do que se pode ter no momento. Pois o momento nos fazlutar po aquilo que almejamos.
Teu bom dia, teu sorriso, irá fazer muita falta quando acabar o ciclo dessa rotina sabe?!
As pessoas caem de pará-quedas na minha vida, é essa a impressão que eu tenho às vezes. E realmente, param a minha queda sabe.
É muito, muito bom te ver todos os dias, nem que seja pelos amarelados corredores da faculdade. Nem que seja num café rápido para contar os bafos, pra reclamar da vida, do chefe, de desconfiar da sombra da árvore.
Amo muito você pequeno grande garoto. Conte comigo pra sempre em sua vida.
Por que amigos podem se perder de vista ao longo de seus caminhos.
Mas nunca perdem a essência do que realmente uma amizade significa.
E várias vezes no meu dia, meu sorriso existe por você!
Um beijo e um queijo de quem acredita muito em todos os teus sonhos!!
"Quand le mystère est trop grand nous nósons pas désobéir"
"Quando o mistério é grande de mais, a gente não housa desobedecer"
(Antoine de Saint-Exupéry)


C. F. M. da Luz

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

...

O bar existe apenas na lembrança dele, meu amigo que conta da cerveja compartilhada com outros na esquina da Fradique Coutinho. O bar não existe de fato, ao menos para mim e, no entanto, eu poderia descrevê-lo, falar dos detalhes das paredes envelhecidas, das mesas de madeira, das cadeiras de assento plastificado. Se quisesse, falaria também da mulher que entrou, perto da meia-noite, atrás de cigarro ou alguém conhecido.
Meu amigo tem a voz morna, viril e, com um jeito charmoso, lê trechos do texto que irá publicar. Ciúmes, amores não correspondidos, traição, espanto, desalento. Digo que percebo, nas entrelinhas, rancor. Eu o cumprimento, difícil escrever sobre um sentimento tão pequeno, tão mesquinho, e ainda por cima tingi-lo com tons de poesia...Ele escreve bem, bem demais. Fico emocionado, e talvez por isso o bar do qual ele fala torna-se real. Posso sentir o gosto da cerveja escorrendo pela garganta, fico indignado com a camiseta rasgada da mulher à procura de fumaça e companhia. Modismo ou desistência da busca de qualquer padrão estético de beleza? Esse amor sobre o qual meu amigo escreve me traz recordações. É agora em outro homem que penso, na rejeição, nos sonhos frustrados, no incompreensível recuo de quem não se permitiu o direito do prazer. Afundo na leitura de Foucault e Henry Miller.
Com o país estagnado e a economia em frangalhos, restam-me jogos intelectuais, dedutivos, apenas para não permitir que o cérebro apodreça, inerte. Esforçando-me para compreender o vazio e do deserto que me cerca, reconheço: da última relação, não ficou nada, nem ao menos uma lembrança afetiva. Penso na psiquiatria, na psicanálise, no discurso do sexo, no poder de repressão do Estado, nas interdições inúmeras que o mundo articulou para impedir, cercear e supervisionar o prazer alheio. Eu resisto. NÃO! Não admito. Não falarei sobre quantas vezes por semana faço amor, não abrirei espaço para que um desconhecido se sinta no direito de compreender meu psiquismo melhor do que eu mesmo. Se precisarem da minha confissão, nada terão. Se precisarem da descrição detalhada do quê eu pensava quando tomava banho, ou do rosto que me embalava os sonhos, ficarão sem resposta alguma.
Meu amigo está preocupado em superar a dor da perda, da impossibilidade de ter quem deseja. Procuro colocar os pensamentos em ordem, falando sem parar. Ele escuta, paciente e carinhosamente. Combinamos então nos encontrar, um bar real para ambos, cerveja de verdade, abraços sinceros e beijos fraternos. Despeço-me, desligando o telefone. Vamos escrever, nós dois, cada um no seu canto. Para outro alguém, deixo um recado, largado no espaço virtual. "Não te escondes do mundo, te escondes de ti mesmo. Espero que te encontres. Se não souberes onde estás, então não poderei jamais te achar". Fico admirando o monitor iluminado, desviando às vezes o olhar para outra janela. Chove, chove muito. Penso no trânsito que me aguarda, nos mistérios e segredos da alma, na revolta que há pouco me dominou. Cada um sobrevive como pode.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Cachorro - quente...

Ontem encontrei uma amiga minha, não uma amiga íntima, apenas uma dessas amigas que a gente encontra de vez enquando. Num encontro não muito casual.
Ela me convidou para comermos um desses cachorros - quentes que são vendidos em carros. Pedimos um tradicional, enquanto esperávamos se instalou um silêncio insuportavél, eu não era nem atingido pelo barulho dos poucos carros que passavam por ali. Poucos carros, afinal a rua estava interditada até certo ponto. Nossos cachorros - quentes chegaram, dei minha primeira mordida, quando ao levantar a cabeça encontro os olhos dela. Olhos verdes, profundos, intensos. Sempre tive medo de olhar nos olhos dela, de encara la parecia que ela conseguia ver a alma. Foram instantes de encontro, quando desviei o olhar ela disse:
- Manda a merda. Manda a merda entendeu?
- Do que você está falando?
- Manda a merda aquilo que te incomoda, porque sei que esse incomodo é quase que como um câncer que te suga.
- Como que você sabe que to me incomodando nem te falei nada.
- Não precisa falar, eu vi e senti pelos teus olhos.
Mais uma vez um silêncio insuportavél e junto com ele um incomodo fora do comum. Fiquei na dúvida se deveria tocar no assunto com ela, afinal a gente mal se conhece, não tenho tal intimidade ora expor para ela coisas tão íntimas. Foda-se, vou contar. Quando abri a boca para falar, ela disse:
- Não quero saber de nada. Você não precisa expor para mim e nem para o mundo o que você está passando. Você não deve satisfação do que sente ou do que você é ou deixa de ser para ninguém, somente você sabe o que tem dentro de você na sua essência.
Quando ela me falou isso, me recolhi aos meu pensamentos incertos e nebulosos e continuei a comer. Até o fim do cachorro - quente nenhuma palavra foi dita.
O silêncio já bastava.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Tô sozinha em casa, finalmente depois de muito tempo tô completamente sozinha, hoje acordei e nem a televisão eu liguei. Curti a casa, as minhas coisas, na verdade, as minhas tralhas. Agoro to aqui sentada de frente para o janelãode vidro do meu quarto, vejo o sol se escondendo atrás das casas e dos outros prédios, ele dá a mundo um tom avermelhado com toques sutis de um laranja e assim o dia vai se indo e começo a ver meu rosto refletido no janelão, começo a ver a merda de ser humano que sou. Porra, tô cansada de ser quem eu sou, tô cansada de ser a amiga-mãe, sempre preocupada com o bem estar do mundo, isso me lembra cena de um filme, onde a menina assistia a televisão de madrugada quando começou a ver seu futuro. Ela seria a defensora dos fracos e oprimidos e morreria jovem se ninguém notar o que ela reamlente era.
Será que se eu ligar a televisão agora também vou ver meu futuro. Não, não vou ligar, não quero saber do meu futuro. Afinal sempre soube dele e sempre estraguei tudo. Sou uma bosta mesmo. Sempre consegui estragar as coisas, e sei muito bem como, por ser sincera e não querer esconder as coisas.
Mas mesmo sendo sincera e querendo me mostrar boa e disposta para o mundo o tempo inteiro, me esqueci de mim, me esqueci de quem sou, sei apenas da onde venho e não faço a mínima idéia para onde vou. Só sei que agora sou a bosta do cocô do cavalo do bandido.
Olho meus olhos profundamente, me encaro como se estivesse encarando uma desconhecida, uma desconhecida inútil, mosca morta e burra.
Não suporto mais ver a imagem na janela.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

My Dear...(2*)

Cidade qualquer, 11 de dezembro de um ano qualquer.

O dia está estranho hoje. Parece que me falta alguma coisa, alguma parte. Acho que é porque não o vi essa manhã.Estranho, uma pessoa fazer tanto sentido na sua vida se você nem a conhece direito. Mas já estou tão acostumada com a presença dele ali, todos os dias sentado ao meu lado no ônibus, sim, incrivelmente, coincidência ou não, sentamos todos os dias um ao lado do outro, são raras às vezes em que temos que sentar em bancos diferentes. Parece que todas as pessoas do ônibus conspiram para que nosso encontro sempre seja realizado. Mas hoje, ele não estava, o procurei por todo o ônibus e não o encontrei.Acho que por causa disso q meu dia está estranho e tão vazio.
Parece se repetir como o dia de ontem, o dia parecia ser o mesmo a não pelo fato de que eu não fui para o trabalho, estar me sentindo tão vazia, incrédula e precisando desabafar, descarregar aquilo que eu sentia.
Em um click, puxei a campainha do ônibus e desci em fronte à rodoviária, fui ao balcão de uma empresa qualquer e comprei uma passagem para alguma cidade do litoral. Embarquei. Depois de uma hora de viajem cheguei à rodoviária. Desci do ônibus, e fui rasgante para a beira da praia, como não conhecia ninguém ali naquela cidade e única coisa com que eu me identificava era o mar. Fui, cheguei à orla, parei como se alguma coisa bloqueasse meu passo seguinte para chegar até a areia.
Sem entender o porque daquilo, sentei na orla e comecei, como se minha cabeça rebobinasse minha vida da frente pra trás. Relembrei momentos, que me fizeram perder a fé nas pessoas, que me deixaram incrédula para assuntos que não gosto de pensar, que pra mim são perda de tempo. Compreendi ali de frente pro mar o porquê de não conseguir chegar onde queria.
Percebi ali de frente para o mar, de frente para um lugar em constante transformação que os únicos sentimentos que ali devem estar são os bons, posso até chegar com os mais terríveis Mas será ele o mar, com toda sua força e poder que irá levar, como quando ele leva o que está escrito nas areias pro fundo do mar.
Respirei, levantei do calçadão dei o passo e conseguir sentir nos pés, a areia fofa da praia, dei mais alguns passos, fiquei a beira da água, meus pés foram tocados pela água, sentia que aquela água estava levando consigo tudo aquilo que eu não queria mais. Agora entendo o porquê tenho tanto respeito pelo mar... e por quem tem ele como morada. Odoyá minha mãe Iemanjá. Salve o MAR!


Pessoa qualquer.


“Veio de manhã molhar os pés na primeira ondaAbriu os braços devagar e se entregou ao vento o sol veio avisar que de noite ele seria a lua, pra poder iluminar Ana, o céu e o mar ...”

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

My Dear...(1*)

Cidade qualquer, 10 de dezembro de um ano qualquer.

O dia está estranho hoje. Parece que me falta alguma coisa, alguma parte. Acho que é porque não o vi essa manhã.
Estranho, uma pessoa fazer tanto sentido na sua vida se você nem a conhece direito. Mas já estou tão acostumada com a presença dele ali, todos os dias sentado ao meu lado no ônibus, sim, incrivelmente, coincidência ou não, sentamos todos os dias um ao lado do outro, são raras às vezes em que temos que sentar em bancos diferentes. Parece que todas as pessoas do ônibus conspiram para que nosso encontro sempre seja realizado. Mas hoje, ele não estava, o procurei por todo o ônibus e não o encontrei.
Acho que por causa disso que meu dia está estranho e tão vazio.

Pessoa qualquer.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

WC - 2

Começou por acaso. Estava lá, sentado, fazendo o que tinha que fazer. Sem nada para pensar, um jornal para ler ou algo para ocupar aquele tempo, comecei a observar o que estava escrito nas paredes. Dezenas de mensagens de todos os tipos, diferentes caligrafias, cores diversas. Política, mulher, religião, futebol, sexo... é maravilhoso ver a criatividade dos cidadãos num banheiro público. Uma delas, insultava fervorosamente meu time do coração, o que não poderia deixar barato. Peguei uma caneta e comecei a rabiscar uma resposta igualmente mal-educada.Na semana seguinte, na mesma cabine, havia uma outra mensagem abaixo da minha. De um torcedor de um terceiro time, que decidiu entrar na discussão. Coloquei uma outra resposta e o que era um simples passatempo virou obsessão. Em todo banheiro público que entrava – ou a cada cagada que dava, melhor dizendo – eu procurava responder as frases que estavam lá. Quando não havia nenhuma, eu mesmo dava início à discussão.No entanto, escrever ou responder o de sempre não me dava mais satisfação. Queria deixar a minha marca, algo que quem frequentasse o banheiro pudesse se lembrar sempre. Nada de política ou futebol, essas coisas passam. Quinze homens por dia, cinco mil, quatrocentos e setenta e cinco caras por ano passariam por aquela cabine e leriam o que eu tinha a dizer.Ali, realizando o ato mais solitário de qualquer homem, percebi que aquele breve instante em que a pessoa se ocupa apenas de si mesma seria a minha chance de mostrar a quem passasse que este era um momento único. Saquei a caneta e escrevi na altura do olho de quem senta na privada:

EM POUCO TEMPO, ESTA SUA BELA CAGADA NÃO MAIS EXISTIRÁ. APROVEITE-A.
Em qualquer banheiro público que fui depois daquele dia deixei esta frase. Podem rir, podem achar ridículo, mas é o meu recado para a humanidade. Porque são também de cagadas que se vive a vida.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

WC - 1

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Cheguei na empresa hoje e fui ao banheiro. Estava lotado, o que é incomum.
A conversa era a seguinte:
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- Minha amiga trabalha em uma empresa de obras, ela diz que o dia mais feliz é quando tem que visitar as obras, pois ela se sente o máximo !!!
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E todas riam e contavam histórias sobre como é bom quando os homens mexem com elas !!! Era uma conversa muito empolgante e bem-humorada.
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Elas comentava que gostavam quando os homens as elogiavam no diminutivo: Lindinha, pequenininha, menininha, etc.
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Diziam que esse negócio de ÃO é desagradável, que não gostam quando eles elogiam no superlativo : mulherão, grandão !!!!
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Conversas de banheiro ... Eu ri das histórias e fui trabalhar.
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Saí do trabalho e estava indo dar aula, passei numa rua muito movimentada e um homem, estilo "peão-de-obra", olhou bem para mim, inclinou a cabeça e disse bem alto:
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- B U C E T Ã O !!!!
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Quase morri de rir !!! Vocês imaginam uma coisa dessas ?
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(fonte: http://ggnuncamais.blogspot.com)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Durante dias da minha janela eu via ele. Todos os dias no mesmo horário eu via ele.
Ficava na espreita do meu reduto, com uma luz de penumbra em pé no canto da janela, dali eu podia vê-lo e não era vista. Observava seus movimentos e suas ações.
Durante dias fiquei conhecendo ele e seus segredos. Sua mania de dobrar todas as roupas, de organizar os livros e cd`s por ordem alfabética, de cantar músicas lindas enquanto toma banho e adorava quando ele arrumava seu painel de fotos e recados. Pra mim era ali, naquele painel que ele realmente se revelava.
Durante dias conheci aquele desconhecido, talvez eu conhecesse ele mais do que ele próprio. Sabia em detalhes a sua rotina enquanto dentro de seu quarto, sabia que seus olhos negros sempre buscavam alguma coisa em algum lugar, que ao passar a mão pelo cabelo buscava a sabedoria para tomar decisões, que ao fechar a cara alguma coisa não estava bem e também nunca gostava quando isso acontecia porque ele ficava bem mais bonito quando soltava o sorriso de uma verdadeira alegria. Alegria essa que nunca soube qual era.
E hoje não o vejo, nem seu sorriso e o pior nem sei nome eu sei.