quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

WC - 2

Começou por acaso. Estava lá, sentado, fazendo o que tinha que fazer. Sem nada para pensar, um jornal para ler ou algo para ocupar aquele tempo, comecei a observar o que estava escrito nas paredes. Dezenas de mensagens de todos os tipos, diferentes caligrafias, cores diversas. Política, mulher, religião, futebol, sexo... é maravilhoso ver a criatividade dos cidadãos num banheiro público. Uma delas, insultava fervorosamente meu time do coração, o que não poderia deixar barato. Peguei uma caneta e comecei a rabiscar uma resposta igualmente mal-educada.Na semana seguinte, na mesma cabine, havia uma outra mensagem abaixo da minha. De um torcedor de um terceiro time, que decidiu entrar na discussão. Coloquei uma outra resposta e o que era um simples passatempo virou obsessão. Em todo banheiro público que entrava – ou a cada cagada que dava, melhor dizendo – eu procurava responder as frases que estavam lá. Quando não havia nenhuma, eu mesmo dava início à discussão.No entanto, escrever ou responder o de sempre não me dava mais satisfação. Queria deixar a minha marca, algo que quem frequentasse o banheiro pudesse se lembrar sempre. Nada de política ou futebol, essas coisas passam. Quinze homens por dia, cinco mil, quatrocentos e setenta e cinco caras por ano passariam por aquela cabine e leriam o que eu tinha a dizer.Ali, realizando o ato mais solitário de qualquer homem, percebi que aquele breve instante em que a pessoa se ocupa apenas de si mesma seria a minha chance de mostrar a quem passasse que este era um momento único. Saquei a caneta e escrevi na altura do olho de quem senta na privada:

EM POUCO TEMPO, ESTA SUA BELA CAGADA NÃO MAIS EXISTIRÁ. APROVEITE-A.
Em qualquer banheiro público que fui depois daquele dia deixei esta frase. Podem rir, podem achar ridículo, mas é o meu recado para a humanidade. Porque são também de cagadas que se vive a vida.

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